Resenha: Fernanda Takai – Na Medida do Impossível


Fernanda Takai tem uma das vozes mais doces da MPB, e isso ficou ainda claro quando gravou um disco apenas com canções gravadas por Nara Leão, chamado Onde Brilhem os Olhos Seus. Administrando a carreira solo e o Pato Fu, banda que está há mais de 20 anos, Takai lançou neste ano, em parceria com a Natura, seu terceiro disco solo, mas, efetivamente, o primeiro que caminha sozinha e tem um repertório que flerta com que fez em sua banda com os rumos que sua carreira solo tomou nos últimos sete anos.

Com um violão bem tranquilo e uma letra ‘zen’, “Doce Companhia” abre o disco da maneira esperada, e isso mais do que o suficiente para deixar o ouvinte curioso para seguir a audição. O refrão fácil, aliado com uma doce melodia, consegue manter tudo no caminho, ajudando a canção a se sustentar. Segunda faixa, “Como Dizia o Mestre” só diz verdades sobre os homens – me incluo nessa – em uma música deliciosa de se ouvir.

“De um Jeito ou de Outro” é mais “rock”, vamos colocar assim, entre aspas mesmo. Mais rápida do que as outras, mas com uma pegada mais pop/eletrônico moderno, ela é piegas ao extremo. E daí? Piegas também é bom (quem nunca foi piegas uma vez na vida não sabe o que está perdendo). Saindo da alegria e indo para introspecção, Takai canta a tristeza de perder um amor em “A Pobreza (Paixão Proibida)”, um Romeu e Julieta moderno. Etérea, ela tem uma melodia que lembra alguns momentos mais tristes de 21, disco que consagrou Adele.

Melhor do álbum, “Seu Tipo” é cheia de nuances e conta a história de uma pessoa que está fora de mão da atual sociedade que convivemos, fazendo coisas que ninguém faz mais. Também tem um excelente apelo pop, e ela vai fazer muito sucesso nas rádios. Fernanda Takai já mostrou que canta bem em qualquer língua, até mesmo em japonês, e “You And Me And The Bright Blue Sky”, em inglês, é outra prova disso. Amadurecimento musical é isso: a língua deixa de ser uma barreira e vira outro porto seguro.

Numa espécie de tango abrasileirado, “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme” talvez se encaixaria melhor em outro tipo de trabalho. Em Na Medida do Impossível, a canção ficou fora de lugar – uma pena, porque a letra é ótima. Ela pode funcionar melhor ao vivo. O ritmo volta em “Quase Desatento”, outra que a simplicidade é mais do que o suficiente.

Com a participação do Padre Fábio de Melo, “Amar Como Jesus Amou” é dessas músicas de igreja que qualquer um, forçado a ir à missa quando criança por anos, pega raiva e não quer nem chegar perto. Mas até que essa releitura não ficou ruim, não. “Liz” tem piano, tem bateria suave, tem melodia tranquila e letra poética, todos elementos para uma ótima faixa romântica com ares de drama, certo? Certo.

“Partida” começa com a repetição incessante da melodia até que muda no segundo verso, e que verso. “Escute um coração que não quer mais sofrer” é dessas coisas que toca qualquer pessoa, até mesmo aquelas que não têm coração. Outra letra belíssima. Segunda versão do disco, “Pra Curar Essa Dor (Heal The Pain)” conta com a boa participação de Samuel Rosa, vocalista do Skank, que tem o melhor repertório do rock nacional hoje em dia. Ah, a faixa foi muito bem trabalhada e é outra que merece ganhar as rádios do País. “Depois Que o Sol Brilhar (Mary)” encerra de maneira melancólica – o som do violino fica na cabeça por dias. Ela é pesada e não reflete o tom do álbum, mas mostra como é a vida: cheia de luz e sombra.

Esse disco de Fernanda Takai pode ser considerado o primeiro trabalho solo de verdade da vocalista do Pato Fu. Com letras ótimas, é um álbum bem amarrado e as participações só acrescentam às faixas. Se alguém ainda tinha qualquer dúvida do potencial de Takai para estar na linha de frente dessa geração da MPB, então tudo se esvai em Na Medida do Impossível, um dos grandes discos brasileiros do primeiro semestre.

Tracklist:

1 – “Doce Companhia (Dulce Compañia)”
2 – “Como Dizia o Mestre”
3 – “De um Jeito ou de Outro”
4 – “A Pobreza (Paixão Proibida)”
5 – “Seu Tipo”
6 – “You And Me And The Bright Blue Sky”
7 – “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme” (com Zélia Duncan)
8 – “Quase Desatento”
9 – “Amar Como Jesus Amou” (com Padre Fábio de Melo)
10 – “Liz”
11 – “Partida”
12 – “Pra Curar Essa Dor (Heal The Pain)” (com Samuel Rosa)
13 – “Depois Que o Sol Brilhar (Mary)”

Nota: 4/5



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