Resenha: SILVA – Vista pro Mar


Silva é desses músicos da nova geração brasileira que veio com tudo no período Los Hermanos pós-Ventura. Depois do sucesso do primeiro trabalho, ele vem com – e sempre desafiador para qualquer cantor – segundo disco, cheio de sintetizadores e o que mais o computador pode fazer por alguém nas gravações.

Abrir o álbum com a faixa-título é sempre um cartão de visitas; é como pegar na mão do ouvinte de guiá-lo por toda audição. Com o claro uso dos sintetizadores, Silva cria um clima ameno e com cara de praia mesmo, uma boa faixa para iniciar os trabalhos. Há muito dessa nova fase da música brasileira em "É Preciso Dizer": bateria eletrônica, efeito na voz e pouca coisa realmente que não foi feita no computador. Ou seja, não há naturalidade suficiente para convencer de que ela deveria estar ali.

Já na terceira canção, "Janeiro", é possível perceber que Vista pro Mar foi concebido para ter certa ordem lógica e para não ser muito flexível com relação às faixas. Por exemplo, a sensação de ter ouvido uma canção de quase 15 minutos é gigante. Mesmo assim, “Janeiro” ganha muito quando um belo solo de saxofone é introduzido na parte final, criando um clima épico – climas épicos são legais.

“Entardecer” não traz nada de novo, e ainda estamos na quarta canção. O grande problema desse tipo de trabalho é que ele precisa ser bem amarrado para funcionar. E é isso que acontece no interlúdio até chegar em “Okinawa”, com ótima participação de Fernanda Takai. É esse tipo de conjunto que espero de um cara talentoso do estilo do Silva.

A bela introdução de “Disco Novo” parece sair de um disco que flerta com os trabalhos do New Order com toques mais pop. É outra faixa que foge do início óbvio, o que é sempre bom. “Universo”, com seu sinth-pop, funciona muito bem, diferente de “Volta”, que soa até irritante por usar mais do mesmo.

Marcelo Camelo, Marcelo Jeneci e Rodrigo Amarante devem ter ficado orgulhosos quando ouviram “Ainda”, uma faixa acústica que deve embalar muito romance por aí neste ano – e nos próximos, por que não? Canções com esse tom de poesia, curtas, sem refrão e só no violão sempre fizeram sucesso por serem fáceis de gravar, e não é diferente com “Ainda”, mesmo que ela soe jogada e completamente diferente de tudo que foi apresentado.

O sinth-pop fácil retorna em “Capuba”, mas até que o trabalho ganha fôlego pela mistura interessante de elementos se completando. Vale a pena ouvi-la separadamente e dar atenção aos detalhes, assim como “Maré”, a menos óbvia entre todas as que usaram os recursos do computador.

Um começo capenga de disco sempre atrapalha, e Vista pro Mar tem isso, diria o outro. Ouvindo o trabalho inteiro, é possível até mudar de opinião com relação à primeira audição – ou na audição das canções separadas. Ousado, mas não muito, Silva fez um disco seguro para ele e para quem gosta de suas músicas. Para quem não é fã, não é um trabalho complicado, pois existe uma temática e algumas letras são ótimas, mas é difícil de pegar no embalo. Porém, quando pega, é um álbum muito bom.

Enfim, o começo ruim prejudica um pouco a audição. Depois disso, Vista pro Mar consegue colocar o ouvinte dentro da sua proposta: ser um álbum leve e com ótimo clima.

Tracklist:

1 - "Vista Pro Mar"
2 - "É Preciso Dizer"
3 - "Janeiro"
4 - "Entardecer"
5 - "Okinawa" (feat. Fernanda Takai)
6 - "Disco Novo"
7 - "Universo"
8 - "Volta"
9 - "Ainda"
10 - "Capuba"
11 - "Maré"

Nota: 3/5



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