Discos para história: Revoluções Por Minuto, do RPM (1985)


A 35ª edição do Discos para história fala do disco e da banda de maior vendagem dos anos 1980. O RPM e seu Revoluções Por Minuto trouxeram um pouco da atmosfera da beatlemania ao Brasil 15 anos depois do fim dos Beatles.

História do disco

O embrião do RPM apareceu em 1980, quando o futuro baixista Paulo Ricardo conheceu o tecladista Luis Schiavon. Dessa amizade nasceu a vontade de ter uma banda, mas o sonho foi adiado por alguns anos por conta de viagem de Paulo a Londres – ele virou correspondente da revista Somtrês e escrevia sobre as novidades locais.

Esse tempo foi muito importante na formação pelo simples fato de que era muito mais fácil para ele ter contato com que estava acontecendo na cena inglesa formada pela New Wave, o Synthpop, New Romantic e o rock alternativo. Tudo isso, fora as influências de Pink Floyd, Yes e outras bandas da geração anterior do rock progressivo.


Em 1983, depois de inúmeras trocas de cartas, Paulo Ricardo voltou e os dois começaram para valer o trabalho de composição das canções que viriam a entrar em Revoluções Por Minuto. Eles convidaram Fernando Deluque, ex-Gang 90 e Absurdettes, para assumir a guitarra e Moreno Júnior para a bateria, mas ele acabou deixando a banda por ser menor de idade. Charles Gavin, ex-Ira!, chegou a gravar o primeiro compacto do RPM, mas saiu para entrar nos Titãs do Iê Iê. No fim, Paulo P.A. Pagni acabou sendo o baterista na reta final da gravação do primeiro LP – isso explica sua ausência na capa do trabalho.

Gravado em março de 1985, Revoluções Por Minuto saiu em maio e, aliado ao sucesso do compacto com “Loura Gelada” e “Revoluções Por Minuto”, foi um verdadeiro estouro de vendas. Mesmo com as letras um tanto difíceis para algumas pessoas e o excesso de teclados, sintetizadores e da bateria eletrônica, os rapazes do RPM viraram os queridinhos da nação em um momento complicado para o Brasil com a morte de Tancredo Neves e José Sarney assumindo a presidência da república pelos próximos cinco anos.

O grande single do disco foi “Olhar 43”, canção que dez entre dez pessoas sabiam cantarolar graças ao sucesso nas FMs brasileiras. E se um lado era recheado de hits e músicas dançantes, o lado B era composto por faixas mais politizadas e cheias de pensamentos sobre o momento que o mundo vivia. O RPM foi pioneiro nos grandes shows no Brasil. O palco recheado de pirotecnia, efeitos, luzes e tudo planejado para envolver o espectador na apresentação. Além do carisma de Paulo Ricardo, existia todo um clima propicio para ver a banda.

Oito das 11 canções do disco figuraram entre as mais tocadas e o disco bateu os 300 mil exemplares vendidos, números que transformaram o RPM em um enorme fenômeno de público e crítica nunca antes visto. Foi o mais próximo da beatlemania que o Brasil teve – dada as devidas proporções e o enorme atraso. Mas não demorou muito para o grupo implodir internamente e encerrar suas atividades apenas dois anos depois do lançamento de Revoluções Por Minuto.



Resenha de Revoluções por Minuto

O disco começa com um dos maiores hits da história da música brasileira. Apoiada no teclado e no uso de sintetizadores, “Rádio Pirata” foi feita para dançar. O interessante da faixa é ver como o baixo de Paulo Ricardo casou muito bem com as camadas, e a entrada até o refrão é excelente. É de se espantar como uma canção desse quilate, difícil de entender para o público médio, fez tanto sucesso. Outra coisa que chama atenção é Paulo cantar “Façam a revolução” exatamente em uma época de transição no Brasil.



Também pautada na combinação sintetizadores, teclado e baixo, “Olhar 43” é outra que está na lembrança de quem viveu os anos 1980. Agitada e apoiada na bateria, ela não diminui o ritmo nas duas primeiras partes. É na virada que vemos como o RPM soube colocar a parte mais lenta antes de subir o ritmo novamente. É muito difícil alguém iniciar um trabalho com duas músicas desse calibre. E o trabalho de produção de Luiz Carlos Maluly foi muito bom também.

Em “A Cruz e a Espada” vem a parte mais lenta, colocada estrategicamente após duas pedradas. É uma bela letra, que ganhou um solo de clarineta de Roberto Sion – era muito sofisticado para os padrões brasileiros da época, mas nada que não já tivesse sido feito na cena inglesa que Paulo Ricardo pôde acompanhar de perto por alguns meses. “Estação Inferno” tem muito da New Wave e é muito pautada no refrão, na guitarra dando o tom no fundo e a voz sombria.



Voltando ao agito das pistas, "A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade" é a primeira que fala mais diretamente de mulher e emula muito New Order e Eurythmics à brasileira no momento em que o teclado domina completamente. Encerrando o lado A vem “Louras Geladas” e, junto com a anterior, mostra o clima que ganhou o nome de New Romantic na Europa – movimento surgido dentro da New Wave que dominou os anos 1980.

O lado B começa com “Liberdade/Guerra Fria”. Uma linha de baixo mais firme e um teclado mais suave, depois tudo explode em um clima épico. A letra não tem tanta conexão entre os versos, mas trabalha com jogos de palavras para colocar a situação da política mundial (Guerra Fria nunca mais/ Nova era glacial/ E de que me serve a paz/ Se em meu sangue corre o mal?).



Única canção que conta com crédito triplo (Fernando Deluqui acompanhou Luis Schiavon e Paulo Ricardo), “Sob a Luz do Sol” coloca a guitarra em perspectiva em um belo solo aliado a outra letra poética. A sombria “Juvenilia” conta com um teclado soturno que antecede “Pr’Esse Vício”, que é muito parecida com Deep Purple. Outro grande sucesso do RPM foi “Revoluções Por Minuto”, encerramento do LP. Proibida pela ditadura, a música ganhou o coração das pessoas. Ela começa lenta, mas cresce antes mesmo de entrar no primeiro verso e tem a mesma base das faixas do lado A – teclado e sintetizadores usados como se não houvesse amanhã.

O sucesso do RPM durou pouco, talvez pela ganância de quem dos mais próximos da banda ou até mesmo de alguns integrantes, fato nunca explicado por completo. Mas não podemos esquecer Revoluções Por Minuto, um álbum muito bem produzido, bem elaborado e feito para fazer sucesso em um Brasil que não tinha tido o gosto da onda do rock and roll. Pena que tudo aconteceu tão rápido que nem ficou o gostinho de quero mais.



Veja também:
Discos para história: We Shall Overcome - The Seeger Sessions, de Bruce Springsteen (2006)
Discos para história: Band on the Run, de Paul McCartney & Wings (1973)
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