Discos para história: Hot Rats, de Frank Zappa (1969)


A 29ª edição do Discos para história homenageia o mestre Frank Zappa, que morria há 20 anos por conta de complicações de um câncer, falando de seu trabalho mais conhecido.

História do disco

Frank Zappa foi um homem muito produtivo em toda sua carreira, lançando dezenas de álbuns de estúdio, b-sides e coletâneas ao longo de quase 40 anos de carreira. Se sua estreia, chamada Lumpy Gravy, não foi bem recebida, o segundo LP dele seria aclamado como o melhor de sua obra – por consequência, o álbum mais conhecido de sua extensa discografia.

Durante os anos 1960, depois de ter lançado seu primeiro disco, Zappa deixou a fervorosa cena de Los Angeles e mudou-se para Nova Iorque, talvez o pior lugar possível para desenvolver um bom trabalho de acordo com seu estilo. Com ele, foi o pessoal do Mothers of Invention, banda que ele fazia parte à época e que lançou Freak Out!, um dos bons álbuns daquela década.


Mas no verão de 1968 eles estavam sem muito dinheiro e optaram por gastar o restante das economias no retorno à Califórnia, e foi aí que os problemas começaram. Em um grupo com nove membros, é muito difícil não haver nenhum tipo de desentendimento entre os membros. Uma briga envolvendo os direitos autorais das canções, melhorias no contrato com a gravadora Reprise e o desgaste junto com a frustração do insucesso da empreitada em outra cidade acabaram por encerrar as atividades do grupo em 1969.

Obviamente que Zappa não se deu por satisfeito e partiu, mais uma vez, para carreira solo. E foi nesse período que ele trabalhou, gravou e produziu Hot Rats, considerado a bíblia do rock psicodélico e um dos precursores do rock progressivo, que ainda engatinhava e buscava um modelo ideal – bandas como Pink Floyd e Deep Purple ainda estavam buscando a melhor formação e o melhor estilo.

O trabalho ficaria marcado por ser um dos primeiros a usar um estúdio com um gravador de 16 canais, tecnologia muito superior a usada no final da década de 1960. Além disso, quando morava em Nova Iorque, Zappa aprendeu a importância da edição e como utilizar melhor os instrumentos e os efeitos de estúdio no álbum. Isso foi de fundamental importância não só para ele, mas foi outro significativo passo para o avanço do experimentalismo na música.

Por ter essa áurea do “faça você mesmo”, ele é meio o pai do que acontece nos dias atuais – em que você pode gravar um disco inteiro sem sair de casa. Cuidando de todos os detalhes, Frank acabou usando isso como instrumento na hora das gravações, experimentando o que era possível e enchendo de camadas e overdubs todo material instrumental composto por ele.

Uma das coisas engraçadas sobre Zappa é que ele, apesar de ser encaixado no movimento psicodélico, desprezava um pouco a cena, mas também não se opôs quando chegaram com a ideia de uma capa inspirada nesse movimento que foi tão popular entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Tirada por Andee Cohen Nathanson, a foto retrata Christine Frka e reflete o gosto do cantor por um estilo diferente para apresentar seu segundo álbum solo. Hot Rats não chegou nem perto do top-10 nos Estados Unidos, mas conseguiu o feito na Inglaterra, o segundo mercado mais importante.



Resenha de Hot Rats

Única canção lançada como single do disco, “Peaches en Regalia" é inspirada no jazz fusion – basicamente, é a mistura do R&B com funk americano mais refinado. Instrumental, como outras quatro faixas, ela abre o trabalho de maneira brilhante, e ela também mostra como Frank Zappa também foi um dos melhores produtores na música. Não há excessos e tudo se completa brilhantemente na música mais famosa dele.

Mesmo sendo algo totalmente de Zappa, ele não cantou nenhuma canção. A única que teve a voz incluída foi “Willie The Pimp”, que contou com a participação de Captain Beefheart, um dos grandes nomes da cena psicodélica de Los Angeles, no vocal desse blues-alternativo-progressivo que contém um solo de guitarra de sete minutos.



“Son of Mr Green Genes” é a continuação de “Green Genes”, do álbum Uncle Meat, só que mais jazz do que nunca. Aqui também vemos que a banda que acompanhou o criador do disco das gravações é de uma competência absurda, principalmente a figura do multi-instrumentista Ian Underwood – companheiro fiel d’O Mestre em inúmeras gravações. E assim o lado A é encerrado.

Virando para a última parte de Hot Rats, “Little Umbrellas” soa como um blues metalizado misturado com música indiana. Algo para ouvir tranquilamente e sem pressa, diferente de “The Gumbo Variations”, uma jam de mais de 12 minutos envolvendo Underwood, Zappa, o violinista Don ‘Sugarcane’ Harris’  e outros instrumentistas no estúdio. Gravação da mais alta qualidade. A linda “It Must Be a Camel”, que começa no piano e evolui para uma mistura de jazz e rock da melhore qualidade, encerra o considerado por muitos o melhor LP de Zappa.

Frank Zappa influenciou mais de uma centena de artistas em todo mundo durante quase quatro décadas de atividade ininterrupta. Por isso, O Mestre não é apenas mais um cara da cena psicodélica, ele teve papel fundamental na mistura entre jazz, rock, blues e no que seria chamado de progressivo – minutos e mais minutos e improvisos nos discos e nos shows. Há 20 anos, ele nos deixava, mas seu legado, por pior que seja usar um clichê, será eterno. Pessoas ouvirão o Hot Rats nos próximos 100 anos.



Veja também:
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