Resenha: Elton John - The Diving Board


Elton John virou um personagem da cultura pop, não só por suas canções de apelo pop, mas pelo seu estilo de vida, por não esconder seu relacionamento com seu marido, nem seu filho. E por conta de todos esses fatores, a música vinha sendo um pouco esquecida por ele, e essa acomodação é até normal para quem tem mais de 40 anos de carreira.

Nos últimos anos, o pianista vem tentando retomar o ritmo e os motivos que o colocaram como um dos grandes dos anos 1970. Depois de alternar entre trabalhos bons e péssimos, Elton John, sete anos depois de The Captain & the Kid, lançou The Diving Board, o 31º trabalho de estúdio, que contou com ajuda do produtor T-Bone Burnett e do amigo e compositor Bernie Taupin.

“Oceans Away” já mostra como será o trabalho: simples. Nada de arranjos épicos ou melodias intermináveis. É só a bela voz de Elton John e o piano trabalhando harmonicamente para uma canção muito bonita. A faixa seguinte, “Oscar Wilde Gets Out”, deliciosa ao retratar a fuga do escritor da prisão – o verso And looking back with a great indifference/ Looking back at the lime stone walls/ Thinking how beauty deceived you/ Knowing how the fools are fought é incrivelmente pop.

A primeira intromissão de fato de algum instrumento que não seja o piano é a guitarra no início de “A Town Called Jubilee”, canção que puxa para o gospel, já que traz um coro feminino bem afiado e uma melodia muito profunda, enquanto “The Ballad of Blind Tom” é mais blues, mas um blues mais pesado e de melodia triste.

Depois do primeiro de três interlúdios, vem "My Quicksand", faixa com tons autobiográficos e aliada a um piano tristonho – até resentido em certo ponto – falando de Paris e sua frustração com o plano que não deu certo. “Can't Stay Alone Tonight” é a primeira mais animada e carrega um pouco do estilo dos anos 1950.

Colocando um pouco de romantismo no disco, “Voyeur” é dessas que faria o público acender o isqueiro no show – uma pena que não existe mais isso. Na sequência temos a mais triste e melhor letra: “Home Again” mostra um Elton John revistando o passado sem perder a ternura, muito menos o poder de avaliação de quem se envolveu com muita coisa. É uma música de uma clareza que beira a perfeição pop – refrão fácil, conjunto de metais funcionando muito bem e uma bela letra.

Outra canção meio gospel, “Take This Dirty Water” antecede o segundo interlúdio para “The New Fever Waltz” faixa em que o arranjo é o grande ponto. Estilo de blues muito popular entre os anos 1930 e 1950, o boogie-woogie tem sua vez em “Mexican Vacation (Kids In The Candlelight)”. Mais longo, o último interlúdio é um belo solo de piano que emenda com a faixa-título do disco.

Não, The Diving Board não é o melhor trabalho de Elton John, tampouco faz jus ao que ele fez em seu melhor momento. Mas, ainda assim, é um disco muito interessante para quem não teve a chance de ouvi-lo em seus primórdios, momento da carreira sem exageros melódicos ou pirotécnicos. Se este disco levasse o nome de Back to Basic eu não me surpreenderia. Porque o que o pianista fez foi isso: retornar ao passado de forma muito competente.

Tracklist:

1 - "Oceans Away"  
2 - "Oscar Wilde Gets Out" 
3 - "A Town Called Jubilee" 
4 - "The Ballad of Blind Tom"       
5 - "Dream # 1"
6 - "My Quicksand"
7 - "Can't Stay Alone Tonight"
8 - "Voyeur"
9 - "Home Again"    
10 - "Take This Dirty Water"        
11 - "Dream # 2"
12 - "The New Fever Waltz"
13 - "Mexican Vacation (Kids In the Candlelight)"
14 - "Dream # 3"
15 - "The Diving Board"

Nota: 3,5/5

Comentários