Resenha: Cícero – Sábado


O primeiro disco é sempre um desafio, principalmente pelo medo da recepção do público, mas Cícero superou isso com folga em Canções de Apartamento. O trabalho é pautado pelos clichês da solidão e saudade, que funcionam muito bem dentro da proposta apresentada, o que é sempre bom. Depois de todo sucesso e atenção, o segundo álbum é sempre algo muito difícil a ser feito – é praticamente uma porta para uma carreira brilhante ou esquecimento completo.

Neste ano, li uma matéria no jornal inglês ‘The Guardian’ falando sobre isso e como bandas não superaram o segundo disco, gerando frustração nelas e nos fãs. E é mais ou menos dentro deste contexto que Sábado torna-se um grande desafio para Cícero, premiado e talentoso músico dessa nova geração brasileira que apareceu nos últimos quatro ou cinco anos.

O álbum começa com “Fuga nº 3 da Rua Nestor”, música que pode até chamar atenção por um ou outro motivo, mas que não se sustenta por si só por não significar nada para quem ouve. Já “Capim-Limão” é o esquema dedilha o violão y me voy ao melhor estilo Marcelo Camelo.

“Ela e a lata” também não traz nada de novo. Ao contrário, mostra um Cícero arriscando e errando em uma canção que beira o blasé, enquanto “Fuga Nº4” tem toques de eletrônico e tenta emular algo no estilo Radiohead, também sem chamar muito atenção ou algum tipo de destaque. “Para Animar o Bar” tem uma melodia bem interessante por ser quase uma marchinha – seria interessante ver essa faixa mais rápida e animada.

“Por Botafogo” é uma canção muito João Gilberto no melhor estilo banquinho e violão, e vai até bem. Se ficasse só nisso não seria das piores, o que estragou foi o efeito no fundo. Continuando, “Duas Quadras” é outra que não faria diferença se tivesse ficado de fora. Tão melancólica e sem graça quanto outras, “Asa Delta” é o encaminhamento para as duas músicas finais. “Porta, Retrato” mantém o nível do trabalho para baixo e, para finalizar, “Frevo Por Acaso” até soa interessante e animada, destoando do resto. Mas é muito pouco pela espera e pelo potencial do cantor.

No melhor estilo poético-melancólico-egoísta, Cícero misturou de tudo um pouco no disco, e isso tem que ter disposição e habilidade, coisas que faltaram no trabalho como um todo. Esse toque radioheadiano não ficou bom e atrapalhou algumas canções com grande potencial para ganhar destaque. Tudo ficou muito sem graça e vazio. Nem mesmo as participações de SILVA ou de Marcelo Camelo acrescentam algo – parece que estão ali por estar.

Se existe mesmo esse negócio de teste do segundo disco, infelizmente não deu para Cícero. Quase nada chama atenção, o que é uma pena. A expectativa para Sábado era grande, mas tudo que a audição traz é uma segunda-feira chuvosa e no trânsito.

Tracklist:

1 - "Fuga nº3 da Rua Nestor"
2 - "Capim-Limão"
3 - "Ela e a Lata"
4 - "Fuga nº4"
5 - "Pra Animar o Bar"
6 - "Por Botafogo"
7 - "Duas Quadras"
8 - "Asa Delta"
9 - "Porta, Retrato"
10 - "Frevo Por Acaso"

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