Resenha: Jay Z – Magna Carta… Holy Grail

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Jay Z tem quase tudo que um homem deseja em vida: é famoso, é rico e é casado com Beyoncé, uma das mulheres mais lindas do mundo e um dos principais nomes da atual safra de cantoras pop, ao lado de Katy Perry, Lady Gaga e Britney Spears.

Já quando o assunto é música, o rapper de 43 anos fez um álbum brilhante em 2003, chamado Black Album. Desde então, vinha em uma crescente na carreira e envolvido em diversas colaborações, como cantar com o nu metal do Linkin Park ou em Watch the Throne, desenvolvido com Kanye West marcando a passagem de bastão entre gerações.

Quatro anos depois do último trabalho, intitulado The Blueprint 3, de 2009, Magna Carta… Holy Grail cresceu e foi fomentado cheio de expectativas. Além de tudo que já foi citado antes, ele ainda ganhou a presença de Blue Ivy Carter, sua primeira filha com Beyoncé. O disco começa com a participação do cantor mais hypado do momento: Justin Timberlake dá um tom delicado e bem pop a “Holy Grail”, mas a canção se perde ao usar um trecho de “Smells Likes Teen Spirit”, do Nirvana, para, então, exaltar tudo, todos e a si próprio. Aqui começa a primeira de várias auto-punhetas cheias de dinheiro nas letras.

Em “Picasso Baby” temos referências a alguns dos maiores gênios da arte, mas aqui também rola aquela ostentação, yo. Sempre lembrando que ostentação é bom, mas putaria é melhor. A parte final é mais interessante, e lembra o velho Jay Z, o Jay Z raiz, moleque, “99 Problems” e me voy. “Tom Ford” é outro rap-ostentação muito ruim em que nada é aproveitável. Com participação de Rick Ross, Jay Z não tem vergonha de seu italiano em “F*ckwithmeyouknowigotit” para falar sobre seda, sua acompanhante e seus atributos e vinhos.

Usando aquele clichê velho da música, Jay Z contou com outra pequena ajuda de um amigo em Magna Carta… Holy Grail: Frank Ocean participa de “Oceans”. Diga-se: até que enfim uma canção boa, não apenas trechos bons. “F.U.T.W” também sai um pouco da linha “hey, yo, eu sou rico, tenho grana e muita fama” e fala mais de coisas do cotidiano, linha de música que tornou o rapper famoso.

Como grande homem de negócios rico que se tornou, ele não tem a menor vergonha de admitir que é bom de conta em “Somewhere in America”, muito menos de falar mal da internet, do Instagram e de usar Miley Cyrus como referência para o atual momento dos Estados Unidos, enquanto “Crown” mistura tudo e não diz nada.

Cheio de referências religiosas, “Heaven” pede igualdade e diz que apenas Deus pode julgar em uma letra e batidas bem interessantes, já em “Versus” ele manda uma indireta na cara de alguém e pergunta “what your net worth is?”. “Part II (On The Run)” conta com a participação da patroa Beyoncé em outro momento muito pop do trabalho. Interessante que Jay Z inaugurou um novo estilo: o rap-ostentação-romântico misturado com R&B bunda mole.

Voltando às ofensas, “Beach Is Better” é um trocadilho entre beach e bitch no título e retoma a ostentação e “olha como sou foda e rico, chupa essa manga”. Mas “BBC”, com a participação de Nas, deve ser o maior rap ostentação de todos os tempos. Ninguém tem a menor vergonha de falar que a bilionário, que usa coisas de marca, nem de falar que vendeu 20 milhões de discos, nem de anunciar aos quatro cantos que é o gangsta do momento, yo. Em uma sequência de letras autobiográficas, “JAY Z Blue” fala de como é ter um bebê em casa; “La Familia” começa com algumas palavras de Blue Ivy Carter e segue uma pegada ainda mais pessoal que a anterior. Por fim, Jay Z fala um de si, não apenas de seu dinheiro, na ótima “Nickels and Dimes” e até critica um pouco a filantropia pública de gente rica. “The greatest form of giving is anonymous to anonymous”, diz.

Jay Z saiu do subúrbio para ser um dos grandes rappers de sua geração, e conseguiu isso. Como não é mais pobre e não tem mais do que reclamar, já que é rico, é casado com uma das mulheres mais desejadas do mundo e tem uma filha linda, ele entrou nessa onda de rap ostentação que assola os Estados Unidos nos últimos anos. O resultado disso é um disco pobre e pouco aproveitável em letras. As participações de Justin Timberlake, Beyoncé e Frank Ocean dão um tom mais leve e pop ao trabalho, e eles até melhoram  a qualidade, mas é muito abaixo do esperado.

Uma pena que Magna Carta… Holy Grail seja tão fraco, pois Jay Z vinha de uma sequência ótima de discos. Ele é craque e pode fazer muito melhor do que contar o que sai na revista 'People' toda semana: que é foda e tem dinheiro.

Tracklist:

1 - "Picasso Baby"
2 - "Heaven"
3 - "Versus"
4 - "Tom Ford"
5 - "Beach Is Better"
6 - "F*ckWithMeYouKnowIGotIt"
7 - "Oceans"
8 - "F.U.T.W."
9 - "Part II (On The Run)"
10 - "BBC"
11 - "La Familia"
12 - "Jay-Z Blue"
13 - "Nickles & Dimes"

Nota: 1,5/5

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