Resenha: Eric Clapton – Old Sock

Perto de se aposentar, Eric Clapton vem diminuindo cada vez mais o ritmo das turnês e das gravações de álbuns. Espelhado nos exemplos de Paul McCartney e Ringo Starr, que apostaram em um disco com muitos covers em 2012 e com poucas inéditas, o eterno guitarrista do Cream fez o mesmo, pincelou algumas canções de seu gosto pessoal e construiu Old Sock, seu 21º trabalho de estúdio – sucessor de Clapton, de 2010.

Grande apreciador do reggae – foi ele que colocou Bob Marley e os Wailers na mira do mundo ao regravar “I Shot the Sheriff” nos anos 1970 –, Clapton coloca essa influência logo de cara com “Further on Down the Road”, de Taj Mahal – que faz uma participação especial. O coro e o característico solo de guitarra são as partes altas, e é um belo cartão de visitas para alguém que não esconde que o desejo é curtir a aposentadoria – a capa é um autorretrato tirado durante as férias na Antígua.


Tomado pelo espírito bluseiro, Eric gravou uma excelente música de outro artista não tão conhecido do grande público. J.J Cale é cantor, compositor e já havia cedido “After Midnight” e “Cocaine” para Clapton, então ver os dois tocando guitarra juntos não é novidade, e "Angel" é um dos pontos altos. Já na faixa três voltamos para 1937, ano que "The Folks Who Live on the Hill" foi gravada. Trilha do filme High, Wide, and Handsome (A Fúria do Oiro Negro), a canção ganhou uma versão intimista, com o dedilhado preciso do violão mais o acompanhamento da orquestra.

Saímos do fim dos anos 1930 e vemos a realidade com "Gotta Get Over”, a primeira de duas músicas inéditas. Com a participação de a cantora Chaka Khan, conhecida por ser vocalista da banda Rufus, a ela tem tudo que um rock precisa para ser bom: ágil, todos em sintonia e a excelência da guitarra. Após passagens pelo reggae, blues e rock, Clapton volta ao ritmo jamaicano com "Till Your Well Runs Dry", cover de Peter Tosh, companheiro de Marley nos Wailers. A novidade está nos arranjos, mas a mistura de ritmos é inevitável, e isso até resume um pouco a carreira do guitarrista.

Então vamos para uma participação mais do que especial na sexta faixa. Paul McCartney, eterno baixista dos Beatles, faz segunda voz em “All of Me”, composta por Gerald Marks e Seymour Simons – a música foi regravada por diversos artistas ao longo dos últimos 80 anos. A canção é um jazz dos anos 1930 e ficou deliciosa na voz do duo Clapton-McCartney, além do coro feminino que complementou tudo com maestria angelical.

Um dos hinos do country-folk americano, “Born to Lose”, de Ted Daffan, ganhou uma releitura com gaita, bateria leve e uma guitarra chorada. Em uma homenagem, Clapton também gravou outro hino, mas do blues: "Still Got the Blues (For You)". Mas ao invés de apenas tocar a canção, ele fez mais ao dar uma cara de jazz, e para ajudá-lo na missão, Eric chamou Steve Winwood para reviver os bons tempos de Blind Faith.

Clapton deixa clara sua preferência pela música de raiz americana na regravação de “Goodnight Irene”, um folk do início dos anos 1930 que foi cantado por Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e Nat King Cole, que ganhou uma versão simples, mas muito eficiente. Outro artista que teve sua canção revistada foi Otis Redding, e “Your One and Only Man” mostra que a mistura do reggae e blues não dá errado com a pessoa certa.

Se “Gotta Get Over” é um rock, "Every Little Thing", a segunda inédita, mostra que o ritmo eternizado por Marley, Tosh e outros tantos é uma influência na vida de Clapton, e ele não poupa esforços para agradecer isso. A maneira como ele toca guitarra casou tão bem, mas tão bem, que não duvido que Eric forme um grupo de reggae e vá viver disso pelo resto de sua vida. Perto do fim, um coro de crianças deu um toque ainda mais delicado. Outra que ganhou o mundo na voz de outros artistas, inclusive na de Frank Sinatra, “Our Love Is Here to Stay” é um jazz que encerra com maestria o novo trabalho de um dos guitarristas mais importantes do mundo.

Diferente de seus contemporâneos McCartney e Starr, Eric Clapton conseguiu fazer um disco de covers muito agradável. Além de escolher músicas de muito bom gosto, sua voz, guitarra, arranjos e rearranjos casaram muito bem, deixando Old Sock um álbum muito bom. E as colaborações só ajudam. Bem encaixadas, as mais de 30 participações acrescentam muito.

Se o céu tiver uma trilha sonora, não será de lágrimas, mas algo parecido com o 21º trabalho de Clapton, outro belíssimo trabalho na coleção do cantor – que copiou seus contemporâneos na ideia, mas deu uma goleada na execução.

Tracklist:

1 - "Further On Down The Road"
2 - "Angel
3 - "The Folks Who Live On The Hill"
4 - "Gotta Get Over"
5 - "Till Your Well Runs Dry"
6 - "All Of Me"
7 - "Born To Lose"
8 - "Still Got The Blues"
9 - "Goodnight Irene"
10 - "Your One And Only Man"
11 - "Every Little Thing"
12 - "Our Love Is Here To Stay"

Nota: 4/5

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=4BekPxUFDDU]


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