60% de inteira-dobrada

Plenário do Senado

Ontem, uma emenda da senadora Ana Amélia (PP-RS) que coloca como limite 40% de ingressos a meia-entrada foi aprovada pelos seus companheiros – segundo o site da parlamentar, a “articulação da senadora foi decisiva para a aprovação”. E dentro do Estatuto da Juventude, ainda foi aumentada a idade para ter esse benefício para 29 anos aos jovens de baixa renda.

Na última semana, escrevi um texto sobre o assunto da meia-entrada. Entre muitos comentários, contra ou favoráveis, existiu um consenso de que é impossível continuar da maneira como está, o que só estimula corrupção e o ‘jeitinho’.

Ao fixar 40% (de quê? Da quantidade total dos ingressos? Dos lugares?), os senadores aprovaram uma maneira de 60% das pessoas pagarem o preço cheio, a famosa inteira-dobrada. Ao tentar corrigir o problema, acabaram deixando tudo na mesma.

Essa emenda não vai acabar com as carteirinhas falsas, muito pelo contrário. Aprovada para agradar “a classe artística”, como disse a senadora, isso vai estimular ainda mais a profusão das falsificações e da corrupção. E não falo isso com tom negativista, falo isso obedecendo a uma lógica muito simples.

Com apenas 40% dos ingressos disponíveis pela metade do preço, essa entrada vai ficar ainda mais concorrida, causando um furor para pagar esse valor. Não duvido que muitos espetáculos tenham apenas essa taxa de ocupação, já que, com 60% do valor cheio, desestimule ainda mais o pessoal a consumir cultura, já que, desse jeito, os preços não vão cair, e os produtores, que só pensam no lucro, vão nadar no dinheiro e cagar para o público.

No outro texto, coloquei o fim das carteirinhas como uma solução. Acabando com esse benefício, os preços iriam cair por uma coisa chamada lógica de mercado. É simples: os interessados teriam que encontrar meios para atrair o público, e os valores teriam que diminuir, mesmo que gradativamente, para equacionar as contas.

“Ah, mas e o pessoal que não pode pagar”, você acabou de se perguntar isso que eu sei. Sinceramente, preciso pensar, mas, claro, encontrar uma maneira de favorecer a todos seria interessante. Carteirinhas só para alunos de escolas públicas? Parcerias entre produtores e o governo para estimular idas ao cinema e teatro nos fins de semana? São apenas algumas ideias, porém, todos teriam que sair ganhando.

De novo, ao tentar corrigir um problema, os senadores não mudaram a situação e só priorizaram a “classe artística”. Ao invés de encontrar uma maneira de equacionar o problema da melhor maneira, os parlamentares ficaram de olho no apoio e nos votos dessa tal “classe artística”. Ao pensar apenas em si, a “classe artística” pode, no longo prazo, diminuir ainda mais o público dos espetáculos.

Parabéns, “classe artística”. Com a ajuda dos senadores, vocês conseguiram colocar o que já estava doente na UTI.

Comentários

  1. [...] do público, a classe artística vai defender só o lado dela? Como no caso já escrito por aqui, essa tal classe artística só legisla em causa própria. Não é justo proibirem que a história de uma pessoa pública, e importante para o Brasil, seja [...]

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