Resenha: Paul McCartney - Kisses On The Bottom


Talvez uma das maiores personalidades da música ainda viva, Paul McCartney, aos 70 anos, pode se dar ao luxo de ousar em um disco após mais de 50 anos de estrada entre Beatles, Wings e a bem-sucedida carreira solo. E foi o que ele fez em Kisses On The Bottom, seu 22º álbum de estúdio lançado no início deste ano. McCartney escolheu a dedo músicas de seus principais ídolos e cantores que admira e deu uma de crooner.

O disco começa com “I'm Gonna Sit Right Down And Write Myself A Letter” e mostra um Paul em seu momento Frank Sinatra – dá para imaginá-lo cantando em um bar dos anos 1940 tranquilamente. Já em “Home (When Shadows Fall)”, Macca mostra que não tem a potência vocal para a música, que foi cantada por Nat King Cole, Louis Armstrong, Sam Cooke entre 1950 e 1964. A sensação é que fica impossível acreditar no que ele canta, diferente dos cantores citados. A mesma sensação fica em “It's Only A Paper Moon”, escrita por Harold Arlen, em 1933, e em “More I Cannot Wish You”, de Frank Loesser.

O que deixa o álbum bem interessante é a levada da banda, como em “The Glory Of Love”. Uma música que tem uma letra bem leve e boa para relaxar é “We Three (My Echo, My Shadow And Me)”, canção gravada por Sinatra nos anos 1950. Em "Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive", cantada por nomes como Bing Crosby, Artie Shaw, Johnny Green, Ella Fitzgerald e Aretha Franklin, McCartney mostra que, definitivamente, não nasceu para ser crooner.

A primeira das duas músicas inéditas que McCartney gravou para Kisses On The Bottom é “My Valentine”. E que música. Elevando o nível do álbum, o cantor mostra que ainda está bem afiado para escrever uma bela canção de amor com a participação de Eric Clapton.

De volta ao jazz, Macca canta “Always”, escrita por Irving Berlin em 1925. Outra bela letra (I'll be loving you, oh always/With a love that's true always/When the things you've planned/Need a helping hand/I will understand always é para emocionar qualquer um).

“My Very Good Friend The Milkman” tem uma letra bem bobinha e a levada da banda deixa a canção bem simpática, muito diferente de “Bye Bye Blackbird”, que é bem dramática e mais pesada. “Get Yourself Another Fool” conta com outra participação de Clapton, enquanto “The Inch Worm”, que é conhecida por ser uma canção para crianças por conta do refrão (Two and two are four/Four and four are eight/Eight and eight are sixteen/Sixteen and sixteen are thirty-two) traz um Paul mais melancólico no final do disco.

A outra música inédita do disco é “Only Our Hearts”, parceria de McCartney e Stevie Wonder. Não tão brilhante como “My Valentine”, a música dá um final bem digno ao álbum.

Ao regravar todas essas canções, Paul mostra que não nasceu para ser um cantor de jazz, mas mostra algumas coisas importantes: a primeira é que ele tem um baita bom gosto e as canções foram bem escolhidas; a segunda é que ele ainda pode fazer excelentes singles, como as duas inéditas do disco.

Kisses On The Bottom não vai virar uma obra prima, porque é um álbum cheio de altos e baixos, e nem acho que a intenção de McCartney era essa. Se ele tinha esse sonho e gravar essas músicas, está mais do que realizado.

Tracklist:

1. “I’m Gonna Sit Right Down And Write Myself A Letter”
2. “Home (When Shadows Fall)”
3. “It’s Only A Paper Moon”
4. “More I Cannot Wish You”
5. “The Glory Of Love”
6. “We Three (My Echo, My Shadow And Me)”
7. “Ac-Cent-Tchu-Ate The Positive”
8. “My Valentine”
9. “Always”
10. “My Very Good Friend The Milkman”
11. “Bye Bye Blackbird”
12. “Get Yourself Another Fool”
13. “The Inch Worm”
14. “Only Our Hearts”

Nota: 2,5/5

Comentários